
Testemunho de um atleta - Costinha
28 de Julho, 2014
A minha relação com Fisioterapeutas começou na época desportiva 1999/2000, numa altura em que era ainda um atleta amador com quatro unidades de treino semanais. Desde essa altura e logo muito cedo tive contacto com uma das grandes referências nesta área e rapidamente percebi que o Fisioterapeuta não era um mero profissional da área da saúde que se limitava apenas a recuperar os atletas das suas variadas lesões. O Fisioterapeuta pode e deve (quando a equipa técnica assim o permite) trabalhar de forma bem próxima com todos os atletas tanto na preparação física - fases de transição lesão/retorno à competição - como na prevenção, pois tem na sua formação as competências necessárias para trabalhar com os atletas nesse âmbito. Deve não só ter o conhecimento como a "preocupação" de pôr em prática programas individualizados ou gerais na área da prevenção e o atleta deve ter a "obrigação" de cumprir com o que lhe é exigido. Para tal, o Fisioterapeuta deve, anualmente, fazer uma avaliação postural de todos os jogadores, individualizando cada caso e preparando para cada um, exercícios de forma a combater as lesões a que alguns poderão estar mais sujeitos a contrair. Num grupo de 15 elementos torna-se impossível supervisionar o trabalho específico de cada um por isso mesmo é fundamental haver da parte do atleta um compromisso moral com esta situação.
Uma boa forma de ilustrar o que falei anteriormente é contando a história das duas lesões mais graves da minha carreira. Uma lesão de esforço (pubalgia) e uma lesão traumática (fractura do quinto metatarso do pé direito), com distintas formas de abordagem. Aqui fica o meu testemunho...
Os primeiros indícios de pubalgia apareceram numa altura em que já era profissional e tinha em média oito unidades de treino semanais. Na parte final da época 2002/2003 comecei a sentir alguns sinais de cansaço, de sobrecarga, fruto de muitos excessos que cometi ao longo das épocas anteriores. Era uma altura em que julgava que o meu corpo aguentava tudo, uma altura em que jogava semana após semana quase 40 minutos por jogo e onde a minha preocupação em relação ao treino invisível nem sempre era uma prioridade. Pois bem, o corpo começou a dar sinais de fraqueza e tive de iniciar, com a ajuda dos dois Fisioterapeutas que me acompanhavam, um programa de prevenção para não chegar a uma fase crónica da lesão. Elaboraram um programa de alongamentos e fortalecimento muscular e consegui terminar a época competindo em bom nível. No entanto, durante as férias, cometi um erro e deitei tudo a perder. Não cumpri o que tinha ficado pré-estabelecido durante o período de inactividade e logo no início da época seguinte tive de parar por forma a debelar em definitivo a lesão. Optou-se pelo método conservador de tratamento e foram meses (com uma roptura do recto abdominal pelo meio) de muito sofrimento que, provavelmente, teriam sido evitados se tivesse seguido à risca o que os Fisioterapeutas delinearam para mim naquelas férias.
A segunda lesão aconteceu em outubro de 2004 num lance com um guarda redes adversário, onde fracturei o quinto metatarso do pé direito. O método conservador foi mais uma vez o escolhido. Estive um mês e meio com a perna engessada até ao joelho mas durante esse período nunca fiquei em inactividade total. Apesar do pouco que se podia fazer em relação a esta lesão em si (pois é necessário esperar pelos timings normais de calcificação óssea) o Fisioterapeuta que me acompanhou na altura teve a sensibilidade e a preocupação de fazer duas coisas: primeiro que eu não perdesse totalmente a minha condição física, segundo elaborou um programa de prevenção de pubalgia pois tinha conhecimento do meu passado recente.
Com o aparecimento destas duas lesões e durante a recuperação das mesmas descobri no Fisioterapeuta outra faceta importante e que é talvez aquela que mais nos aproxima na relação pessoal. Na altura em que mais precisei e nas lesões mais complicadas tive sempre a meu lado não só um Fisioterapeuta, mas também um psicólogo e um amigo. É em condições extremas que muitas vezes se quebram as barreiras do estritamente profissional e se passa para um patamar mais elevado de confiança, acabando, muitas vezes, por se conseguir criar verdadeiras amizades. De qualquer forma, quando acontecem relações de alta confiança a nível pessoal, nunca deve deixar de existir da parte do Fisioterapeuta a devida distância e legitimidade para poder exigir do atleta, assim como o atleta deve saber "separar as águas" e seguir à risca as orientações propostas pelo seu Fisioterapeuta.
São muitos anos de alta competição, muitos anos a trabalhar com pessoas e com métodos diferentes. No caso dos Fisioterapeutas, aprendi a admirar e respeitar cada um deles tentando aprender com todos e transportando para o meudia-a-dia exemplos que me ajudam a manter esta longevidade na carreira.
Um abraço de reconhecimento para todos os Fisioterapeutas com quem trabalhei mas um em especial para o que me endossou o convite de escrever este artigo e que é uma das caras da PhysiFormis. Para ti, João Ribeiro, obrigado e continuação de um excelente trabalho.Acabo como comecei... poderia ainda jogar Futsal ao mais alto nível sem a Fisioterapia e sem os Fisioterapeutas? Talvez pudesse mas não seria, certamente, a mesma coisa!